A exemplo do Blues, também o Fado é um estilo musical cuja estrutura simples e repetitiva ganha valor e interesse basicamente por seus intérpretes. Nesse sentido, cada gravação é uma fotografia de um momento abolutamente único.
Em visita a Lisboa em 1968, arranjou-se um encontro entre Don Byas, saxifonista de Jazz americano, e Amália Rodrigues, então no auge de sua carreira internacional. Jazz encontra o fado. Uma cantora e um saxofonista com extraordinário talento para improvisação. Don não conhecia bem o repertório de Amália. Ela, por sua vez, escolheu algumas de suas canções favoritas e junto de seus músicos de sempre (violão acústico e guitarra portuguesa)enfiaram-se todos num estúdio. Doze canções gravadas numa sessão única, sem preparação nenhuma.
O resultado é, no mínmo, muito interessante. Se por um lado encontramos Amália numa das suas melhores performances registradas em estúdio, perfeita e irretocável com seus músicos do começo ao fim, nos deparamos com um Don Byas bastante perdido, tímido, tateando as canções.
Há momentos que mais fazem lembrar música de pizzaria (como o solo de sax em "Ai, mouraria", que mesmo assim, é engraçada). Em outros momentos, com intervenções mais tímidas e contidas, o sax realmente contribui para acentura o tom melancólico na bela "Cansaço" ou na fantástica "Maldição" que ganha aqui, na minha opinião, sua gravação definitiva. Vale muito a pena!
Bacon!
01. Povo que Lavas no Rio (Pedro Homem de Mello/Joaquim Campos)
02. Solidão (Brito/Trindade/Ferreira)
03. Estranha Forma de Vida (Amalia Rodrigues/Alfredo Duarte “Marceneiro”)
04. Libertação (David Mourao-Ferreira/Santos Moreira)
05. Cansaço (Fado Tango) (Luis Macedo/Joaquim Campos)
06. Rua do Capelão (Frederico de Freitas/Joao Alves Coelho)
07. Ai, Mouraria (Amadeu do Vale/Frederico Valerio)
08. Não é Desgraça ser Pobre (Norberto Araujo/Jose Alfredo Santos Moreira)
09. Coimbra (Jose Galhardo/Raul Ferrao)
10. Lisboa Antiga (Jose Galhardo/Raul Portela)
11. Há Festa na Mouraria (Antonio Amargo/Alfredo Duarte “Marceneiro”)
12. Maldição (Armando Vieira Pinto/Alfredo Duarte “Marceneiro”)
Gravado em 1968
Amália Rodrigues– vocal
Don Byas– Sax
José Fontes Rocha– violão
Carlos Gonçalves– violão
Pedro Leal– Viola portuguesa
Joel Pina– baixo